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terça-feira, 3 de maio de 2011

Música baiana, em estado de imbecilidade:

Nem conheço o jornalista signatário desta jóia de artigo...


Mas, nenhum mal faria se essa matéria fosse transcrita nos jornais da cidade, como editorial de primeira página.
Até o título, é genial: "Música baiana, em estado de imbecilidade".
Não agride ninguém, mas dá um diagnóstico fiel de como anda a música popular baiana...
E vivam o Harmonia, o Parangolé, o Psirico e seus dignos criadores...
"Estrelas" inconfundíveis, ao lado das Ivetes e das Danielas, que faturam em cima disso!
Apenas faturam, ou fazem parte do mesmo naipe?...


Música baiana, em estado de imbecilidade
O pagode baiano usa expressões chulas e palavrões que são reproduzidos por crianças, adolescentes e jovens, e que empobrecem a cultura, reforçam a idéia de um estado analfabeto.
Quando alguém pronuncia a palavra analfabetismo na Bahia, e se essa declaração parte de um acadêmico, branco ou da elite, parece tratar-se de racismo, discriminação e ódio.
Quando dizem que o som do berimbau é simplório, e que qualquer um pode reproduzi-lo sem maiores
conhecimentos instrumentais, por possuir apenas uma corda, logo diriam, é mais um que odeia as raízes baianas, suas influências e sua cultura. Isso já ocorreu na Bahia e deu muito pano pra manga.
E quando dizem que a música baiana está cada dia pior, e que o pagode não passa de mais um sonoro palavrão multiplicado por milhares de incautos, ignaros e estúpidos, certamente repetiriam, trata-se de mais um a ver-nos como sub raça, desinformados e inconformados.
Pois é... E quando essa declaração parte de um sujeito pardo, de origem negra e indígena, e que cursou apenas o segundo grau? Aí, certamente dirão, trata-se de um oportunista, um comunicador frustrado ou de alguém que não conseguiu galgar os seus objetivos.
Pois bem, esse rodeio, meio despretensioso, mas importante, é para falar do grau de imbecilidade a que chegou a música baiana, principalmente ao pagode aqui produzido e consumido.
Não falo do Axé, que apesar da mesmice, não usa palavrões nem ridiculariza a Bahia como Estado analfabeto.
Como estudei numa das escolas mais influentes da Bahia, (principalmente nos anos 50 e 60), o Colégio Central, e também participei da coletanea poética em homenagem ao sesquicentenário da instituição, e fiz teatro e poesia nas ruas de Salvador, se eu pronunciar algumas palavras (ões) e gestos obscenos da música baiana, vou assinar abaixo do que se diz da Bahia pelo Brasil afora, de que é um povo mal educado, sem cultura e que só gosta de balançar o 'bundalelê'.
E, vendo de perto, algumas coberturas jornalísticas pela Bahia adentro, chego a interrogar-me quanto às minhas origens.
E chego a duvidar que tivemos em nosso berço um Raul Seixas, um Castro Alves, um Wally Salomão, um Jorge Amado - que mesmo produzindo alguns palavrões, nunca foi um turpilóquio -, e tantos outros que enalteceram e alguns que ainda enaltecem e fazem lembrar que tínhamos uma cultura.
Mas, quando vou ao Campo Grande, e ouço Caetano Veloso dizer que ' Xanddy é lindo ' e que ele é ' uma das novas expressões culturais' da Bahia, chego a duvidar que sou baiano de verdade, daquele que comeu tripa seca e farinha de rosca pra não morrer de fome.
E eu acho Caetano uma das maiores expressões da música mundial, apesar de ' requentar ' vez ou outra alguma música, que no passado foi considerada ' brega '...
' Aí ' me conformo e vou ouvir um pouco de Xangai, que, entre algumas de suas pérolas, fez o ' ABC do preguiçoso ', que endossa a tese dos sulistas, de que ' o baiano só é gente até o meio dia '. E então o que será o baiano durante a tarde?
É uma legião de trabalhadores, cujo estigma de preguiçoso foi amplamente difundido pelos meios turísticos, uma forma de falar da tranquilidade, da "maresia" e do sossego baiano.
O saudosismo aflora e me remete à década de 1980...
Lá, até 1985, os shows em Salvador, no Projeto Verão, no Centro de Convenções da Bahia, eram bastante disputados.
No palco, Gil, Caetano, Milton Nascimento, Beto Guedes, Barão Vermelho e tantos outros que arrastavam multidões.
Na Barra, shows com Morais Moreira, Luis Caldas e Armandinho com A Cor do Som, encantavam e lotavam a praia.
Retorno ao meu trabalho de coberturas de eventos com música baiana, e lá, estampada em minha frente, uma multidão de 20, 30 mil pessoas numa avenida. As meninas, os meninos, dançam como se tivessem sido libertados naquele instante.
Mais parece um balé de zumbis, daquele extraído dos filmes de terror das décadas de 70 e 80.
Ou então em um orgasmo coletivo, algo do tipo promovido por César ou qualquer outro Calígula da nossa imaginação.
E em uníssono, eles repetem as frases, os refrões e fazem todo o gestual obsceno para completar o enredo empobrecedor.
E o vocalista da banda grita, berra e pede para que todos ecoem aos quatros cantos; "Aponte o corno aí, diga que é corno".
E todos riem, como num circo, mas deveriam chorar ao debruçar a cabeça no travesseiro.
A grande maioria desempregada, deseducada e pobre. Desiludida pela face cruel do ensino que lhes oferecem nas escolas públicas, entregam-se aos bailes horrendos como se fossem a última ópera da vida deles. E se entregam de corpo e alma à missão.
Os maiores patrocinadores da música baiana no interior são as prefeituras, que gastam somas vultosas em festas, micaretas, aniversários e inaugurações, contratando bandas que em nada enriquecem a cultura popular, em detrimento do folclore, das raízes de cada cidade e de sua história.
E lá se vão tubos e mais tubos de dinheiro público pelo ralo.
E voltam para casa sem saber um verso de Vinícius de Morais, sem ter-se envaidecido por ser brasileiro ao ouvir Pixinguinha, sem ter-se delirado com os versos não menos preguiçosos de Dorival Caymmi, sem ter-se deleitado à sonoridade de Bethania e Gal, ou ter-se maravilhado ao som poético de Gilberto Gil...
"Esses moços, pobres moços, ah, se soubessem o que eu sei....", disse Lupicínio Rodrigues, em uma de suas canções, imortalizada na voz de Gilberto Gil.
E vão me perguntar o que tenho feito para mudar o que já está construído. Nada.... Sinto-me impotente...
Apesar de radialista de profissão, jornalista por paixão, não consigo convencer a ninguém do contrário.
A música baiana vai continuar tocando assim durante muito tempo. Mas um dia acaba!
Lutar contra o mercado é muito difícil. É uma máquina de fazer dinheiro a qualquer custo!
E ninguém está preocupado com a educação, com a cultura, com o folclore.
A mídia baiana enaltece, enobrece, escancara esses palavrórios como deuses.
Até que duas meninas aparecem decapitadas numa esquina qualquer.
De quem é a culpa?










Vanderley Soares


Radialista/Jornalista - DRT 5892


Editor do Jornal Gazeta dos Municípios


Alagoinhas-Ba